sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Homenagem a Madalena Iglésias

Ele e ela
dançam nus sobre as ondas do trompete de Miles

Os pés podiam-se sobrepor
e um deles podia fazer voar o outro no mesmo espaço
desenhando arcos de luz numa cinética sonora

O cheiro a nada e o reconhecimento dos corpos
esboçam um esquisso de duas imagens fundidas
num querer-se sem limites
num balbuciar do irrazoável
para além dos limites impostos pela sobrevivência mediana

Sei quem ele é
ele é bom rapaz, um pouco tímido até

Ela e ele
dão agora as mãos sob o som surdo do ruído.

http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/iglesias-eleEEla.html

Haiku 5

Desfazem-se os sentidos
num gelo amnésico
e a alma voga errante para Sul

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Haiku 4

Dias e noites sem sono
agora um pássaro branco suaviza as asas
na leve brisa que entorpece

sábado, 15 de novembro de 2008

Haiku 3

Dias de tortura
pássaros sem asas afundam-se
no fundo do rio negro da alma

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Haiku 2

Há dias turbulentos
em que o vento rodopia as folhas
da minha mente perdida

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Haiku 1

Cada dia que passa
a poeira do Inverno
afoga a memória

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Paris, já está a arder?

É duro ver o resultado (in)esperado de um mau trabalho. Não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo.
Há que reagir. Transformar o mau em bom. Ir buscar forças onde elas já quase não existem e se existem, mais parecem um pequeno sopro de vaidade, de amor-próprio ferido e não algo porque valha a pena lutar.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ensinamentos de Deus

O Feijão viu-se na necessidade de ler o livro "Gestão da cólera para Totós (coléricos e amuados - uma sub-espécie)": em http://www.apa.org/topics/controlanger.html

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Feijão no ShakesWine

O Feijãozinho disse-me: vê esta TED talk: http://www.ted.com/index.php/talks/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html
E eu vi e reparei que já a tinha visto no passado e colocado no meu ipod. Ken Robinson é talvez um dos oradores das minhas amadas TED talks que mais me impressionou. Pelo brilho, inteligência e por um humor 'british' incrível. Gostava de ser o Ken (pelo menos, mais do que a Barbie).
Mas, de repente, ao rever a talk, lembrei-me duma cena feliz no ShakesWine. Como só escrevo diários de vez em quando, não faço ideia se foi antes ou depois, ou durante, na Primavera, ou no Inverno, no dia 30 de Fevereiro, ou nas 25 horas Le Pé. O Feijão tem, em geral, boas recordações do ShakesWine. O Feijão quarda, em geral, as boas recordações e como raramente usa o diário, não guarda muito bem as outras.
Agora quando revejo o Ken, já não o vejo só a ele.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Comunicação excomungada




Feijão ligou a música no seu ipod. Caminhou em passo rápido, como só os feijões não caminham, sob o ritmo sincopado e raptado de Paul Simon. E andou até as pernas doerem, mas elas só doeram no dia seguinte. Mas pensou: os feijões não têm pernas! Mas elas doíam e por isso, no dia seguinte voltou a fazer o mesmo. E as pernas deixaram de doer. O corpo ganhou um cansaço feliz, mas pensou que os feijões não têm corpo. Descansou no cafezinho das tias.
Olhou para os seus 2 últimos posts e pensou que se estava a desvincular da Vida, concentrado numa infância para sempre perdida, mas não desejada, não desejada de volta. A mamã a meio metro à minha esquerda já está morta. A Teté, a dormir e a sofrer depois da diálise está morta. O papá, esse que estava no mesmo lugar onde está agora a mamã, escapuliu-se há muito para dentro dos meus neurónios. É agora uma estrutura de impulsos eléctricos, espartilhada nos vários compartimentos do meu cérebro, como se eu Feijão, tivesse cérebro. Tudo morto, tudo morto. Pergunto a mim próprio se os vivos, digo, os verdadeiramente vivos, não estão já mortos, enrolados no casulo duma vida para sempre perdida.
Mas não. O Feijão não é, nem fez apenas aquilo que as doces fotos fazem crer. O Feijão sofre. O Feijão ama. O Feijão faz asneiras. Procura saídas. O Feijão lê. O Feijão fala. O Feijão vive. O Feijão tenta trabalhar. O Feijão conhece novos universos. O Feijão esforça-se por chegar a algum lado.
Não quer morrer para ser feliz. Quer os momentos felizes, os momentos hiper-felizes, micro-segundos duma felicidade inaudita.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A tríade feminina do Feijão


A mamã (gorda), a Teté (com o regador) e a Tia Mila (a quem eu atirei uma tesoura, malvado). Em baixo a esfregar os olhos (já operados?), o meu primo Ricardinho.
Esta foi a tríade feminina que moldou o Feijão. Descobri só agora que nenhum dos seus membros se inscreveu de forma implacável na minha alma, nenhum deles é o motor do meu destino. Será que é assim, Herr Sigmund?

A Teté está a morrer

A Teté está a morrer lentamente, pobre num Hospital para ricos, adormecida para o Mundo. Analfabeta, duma inteligência rara, duma frontalidade capaz de desafiar os profissionais de saúde a anestesiá-la para evitar problemas, está em contagem decrescente para subir ao Céu. "Então T estás sempre a dormir, nem me dizes olá...".
A Teté está na foto com o gato dela, o seu grande amor, para além do Lili Cacá e do Hu. Baptizei-o de "Astérix" e ela chamou-o de "Marujo". O Marujo já morreu há anos. Foi sepultado no caixote do lixo. Deixou de comer marmota cozida.
O Marujo não gostava de mim e eu retribuía. Eu devia gostar do Marujo mesmo que ele não gostasse do Lili Cacá (que era o meu pequenino eu). Devia, devia. Não posso gostar só de quem me ama.

domingo, 2 de novembro de 2008

Os feijões também renascem

O meu antecessor morreu afogado num ataque súbito de "cólera". Renasço agora, numa estufa improvisada, sem todas as condições para medrar, mas suficientes para poder procurar e encontrar a Luz. Possa a Luz estar comigo.