quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Lags

Pergunto a mim próprio o que justifica o espaço de tempo que decorre entre os meus posts.
Alguns são diários, outros várias vezes ao dia.
Outros têm lapsos de tempo alongados entre eles.
Não terá ocorrido nada, quando os posts escasseiam?
(Parece-me totalmente evidente que não)

Penso, entre outras coisas, que os meus posts são exercícios de solidão e de comunicação
e sempre que não há solidão e a comunicação por outras vias ocorre
os posts rareiam

Isto é um péssimo sinal
Preciso de uma bengala na alma
Será que necessitarei dela para sempre?

Sinto-me como alguém que sem muletas
não consegue olhar-se e ver-se
não é capaz de se apaziguar no interior de si
inquieto pelo apoio em falta.

Pedro, se estivesses comigo no Mosela, desta vez eu mergulhava.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Sonho mau

Luta
entre um homem com picareta
e outro com um espeto

O primeiro picava o segundo no pulso
devagar
abrindo progressivamente um buraco profundo
por onde o sangue ia saindo

A luta estava perdida
até que o segundo homem cravou no peito
o espeto
e a luta terminou

Acordei em sobressalto e agarrei-me às luzes e à sombra
ao barco que parte do cais
às frases mil vezes ouvidas

Abraçei o nada ao meu lado e não senti calor
Apenas um sonho mau
real como a tua ausência

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Se o papá fosse vivo

...faria hoje 88 anos.
Este é o papá que enganava o menino com a colher de sopa. É mais novo do que o papá que colocava os problemas sobre o tempo que demorava uma torneira a encher um depósito de x litros. Ou que lia a história da raposa e me falava do escritor que era tão bom que até inventava palavras que não existiam. Ou que dizia que o Danúbio Azul era melhor do que as músicas dos Beatles porque seria eterna. Ou que me atormentava a cantar: se um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais, se dois elefantes...
Este 'pai de Mozart' que levou o Feijão a tocar de forma sempre perfeita e nunca perfeita, o cravo da vida. Como eu não gostaria de ter sido também o pai de Mozart! E, no entanto, como lhe dei a minha alma e como ele ainda vive dentro de mim, eu, esmorecido e dolente, zangado com uma vida que deixei passar ao lado. Copos e humor: essa mistura fatal para quem pendurou alguma vez a vontade no cabide da vida.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Três Primo(a)s

Irmãos
Todos nos setenta
um solteiro, uma casada, uma viúva
parecem ter menos, vivem forte
Passaram a tarde, beberam chá, comeram pão de ló
apaparicaram a tia
respeitaram o primo triste
Contaram imensas e belas histórias de vida
sofreram e gozaram com ela
(eu sei)
Mas no final, já sozinhos com o primo triste, desejaram:
felicidades...
Como é bom saber que não existe só a aleivosia.

Afinal



Afinal onde não havia saudades
há saudades
Afinal onde não havia ternura
há ternura
Afinal onde havia para sempres
há quem sabe

Vejo a linha do horizonte da costa por mim traçada
vejo a alma doce por mim revelada
na espuma da água, num dia feliz

Sei que somos os anjos da guarda um do outro
vigilantes, atentos ou desatentos, a partir do céu ou do inferno
usando radares do século XXI

Encriptamos as palavras com os códigos que só cada um conhece
afastados pelo espaço da dor
a tentar reparar motores sem diagnóstico
com a vontade de que o difícil não se torne impossível

Afinal onde havia sem retorno
há retoma
Afinal onde só havia desejo
há o inexplicável
Afinal onde o pensamento estava ausente
está o primeiro e o último pensamento do dia
Afinal

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Rótulos e etiquetas, podem também ser tretas

O Transtorno de Personalidade Esquizóide (TPE), é definido como um transtorno de personalidade primariamente caracterizado por falta de interesse em relações sociais, tendência ao isolamento e à introspecção, e frieza emocional.

Os critérios são (pelo menos quatro DSM-IV):

  1. Não deseja e nem aprecia relações íntimas, incluindo ser parte de uma família.
  2. Quase sempre escolhe atividades solitárias.
  3. Tem pouca, se alguma, vontade de ter relações sexuais com outra pessoa.
  4. Tem prazer em poucas atividades, se alguma.
  5. Falta de amigos íntimos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau.
  6. É indiferentes às críticas ou elogios.
  7. Mostra frieza emocional, distância e afetividade limitada.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Há algo mais?


Duplo: o Céu e o Inferno, sem nada no meio?

Haiku 14

Hoje a tristeza escondeu a cara
no negrume do nada
de costas para mim

Haiku 13

Hoje a campeã do carinho
não se esqueceu de mim
e traçou a vermelho uma rota doce

Haiku 12

Minha vizinha do outro lado do rio
caracol com ranho
cornos à procura da Luz

Haiku 11

Hoje regressei triste
e tinha à minha espera uma cotovia
catedrática na dor, a ensinar-me a ser feliz

Haiku 10

Hoje contemplei o meu novo espaço
cheio de coisa nenhuma
onde hei-de Ser

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Haiku 9

Sigo o destino da abelha
numa rota de dor e de liberdade
feita de um abraço terno e esperançoso

Haiku 8

Demasiada dor à minha volta
demasiada dor dentro de mim
basta de dor, hoje choveu onde eu não estava

Haiku 7

Demasiada dor à minha volta
uma prenda especial de Natal
ironia de um destino sequioso

Haiku 6

Afogo o pensamento
na malvasia
os brincos, os brincos, os brincos

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Homenagem a Madalena Iglésias

Ele e ela
dançam nus sobre as ondas do trompete de Miles

Os pés podiam-se sobrepor
e um deles podia fazer voar o outro no mesmo espaço
desenhando arcos de luz numa cinética sonora

O cheiro a nada e o reconhecimento dos corpos
esboçam um esquisso de duas imagens fundidas
num querer-se sem limites
num balbuciar do irrazoável
para além dos limites impostos pela sobrevivência mediana

Sei quem ele é
ele é bom rapaz, um pouco tímido até

Ela e ele
dão agora as mãos sob o som surdo do ruído.

http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/iglesias-eleEEla.html

Haiku 5

Desfazem-se os sentidos
num gelo amnésico
e a alma voga errante para Sul

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Haiku 4

Dias e noites sem sono
agora um pássaro branco suaviza as asas
na leve brisa que entorpece

sábado, 15 de novembro de 2008

Haiku 3

Dias de tortura
pássaros sem asas afundam-se
no fundo do rio negro da alma

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Haiku 2

Há dias turbulentos
em que o vento rodopia as folhas
da minha mente perdida

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Haiku 1

Cada dia que passa
a poeira do Inverno
afoga a memória

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Paris, já está a arder?

É duro ver o resultado (in)esperado de um mau trabalho. Não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo.
Há que reagir. Transformar o mau em bom. Ir buscar forças onde elas já quase não existem e se existem, mais parecem um pequeno sopro de vaidade, de amor-próprio ferido e não algo porque valha a pena lutar.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Ensinamentos de Deus

O Feijão viu-se na necessidade de ler o livro "Gestão da cólera para Totós (coléricos e amuados - uma sub-espécie)": em http://www.apa.org/topics/controlanger.html

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Feijão no ShakesWine

O Feijãozinho disse-me: vê esta TED talk: http://www.ted.com/index.php/talks/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html
E eu vi e reparei que já a tinha visto no passado e colocado no meu ipod. Ken Robinson é talvez um dos oradores das minhas amadas TED talks que mais me impressionou. Pelo brilho, inteligência e por um humor 'british' incrível. Gostava de ser o Ken (pelo menos, mais do que a Barbie).
Mas, de repente, ao rever a talk, lembrei-me duma cena feliz no ShakesWine. Como só escrevo diários de vez em quando, não faço ideia se foi antes ou depois, ou durante, na Primavera, ou no Inverno, no dia 30 de Fevereiro, ou nas 25 horas Le Pé. O Feijão tem, em geral, boas recordações do ShakesWine. O Feijão quarda, em geral, as boas recordações e como raramente usa o diário, não guarda muito bem as outras.
Agora quando revejo o Ken, já não o vejo só a ele.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Comunicação excomungada




Feijão ligou a música no seu ipod. Caminhou em passo rápido, como só os feijões não caminham, sob o ritmo sincopado e raptado de Paul Simon. E andou até as pernas doerem, mas elas só doeram no dia seguinte. Mas pensou: os feijões não têm pernas! Mas elas doíam e por isso, no dia seguinte voltou a fazer o mesmo. E as pernas deixaram de doer. O corpo ganhou um cansaço feliz, mas pensou que os feijões não têm corpo. Descansou no cafezinho das tias.
Olhou para os seus 2 últimos posts e pensou que se estava a desvincular da Vida, concentrado numa infância para sempre perdida, mas não desejada, não desejada de volta. A mamã a meio metro à minha esquerda já está morta. A Teté, a dormir e a sofrer depois da diálise está morta. O papá, esse que estava no mesmo lugar onde está agora a mamã, escapuliu-se há muito para dentro dos meus neurónios. É agora uma estrutura de impulsos eléctricos, espartilhada nos vários compartimentos do meu cérebro, como se eu Feijão, tivesse cérebro. Tudo morto, tudo morto. Pergunto a mim próprio se os vivos, digo, os verdadeiramente vivos, não estão já mortos, enrolados no casulo duma vida para sempre perdida.
Mas não. O Feijão não é, nem fez apenas aquilo que as doces fotos fazem crer. O Feijão sofre. O Feijão ama. O Feijão faz asneiras. Procura saídas. O Feijão lê. O Feijão fala. O Feijão vive. O Feijão tenta trabalhar. O Feijão conhece novos universos. O Feijão esforça-se por chegar a algum lado.
Não quer morrer para ser feliz. Quer os momentos felizes, os momentos hiper-felizes, micro-segundos duma felicidade inaudita.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

A tríade feminina do Feijão


A mamã (gorda), a Teté (com o regador) e a Tia Mila (a quem eu atirei uma tesoura, malvado). Em baixo a esfregar os olhos (já operados?), o meu primo Ricardinho.
Esta foi a tríade feminina que moldou o Feijão. Descobri só agora que nenhum dos seus membros se inscreveu de forma implacável na minha alma, nenhum deles é o motor do meu destino. Será que é assim, Herr Sigmund?

A Teté está a morrer

A Teté está a morrer lentamente, pobre num Hospital para ricos, adormecida para o Mundo. Analfabeta, duma inteligência rara, duma frontalidade capaz de desafiar os profissionais de saúde a anestesiá-la para evitar problemas, está em contagem decrescente para subir ao Céu. "Então T estás sempre a dormir, nem me dizes olá...".
A Teté está na foto com o gato dela, o seu grande amor, para além do Lili Cacá e do Hu. Baptizei-o de "Astérix" e ela chamou-o de "Marujo". O Marujo já morreu há anos. Foi sepultado no caixote do lixo. Deixou de comer marmota cozida.
O Marujo não gostava de mim e eu retribuía. Eu devia gostar do Marujo mesmo que ele não gostasse do Lili Cacá (que era o meu pequenino eu). Devia, devia. Não posso gostar só de quem me ama.

domingo, 2 de novembro de 2008

Os feijões também renascem

O meu antecessor morreu afogado num ataque súbito de "cólera". Renasço agora, numa estufa improvisada, sem todas as condições para medrar, mas suficientes para poder procurar e encontrar a Luz. Possa a Luz estar comigo.