Pergunto a mim próprio o que justifica o espaço de tempo que decorre entre os meus posts.
Alguns são diários, outros várias vezes ao dia.
Outros têm lapsos de tempo alongados entre eles.
Não terá ocorrido nada, quando os posts escasseiam?
(Parece-me totalmente evidente que não)
Penso, entre outras coisas, que os meus posts são exercícios de solidão e de comunicação
e sempre que não há solidão e a comunicação por outras vias ocorre
os posts rareiam
Isto é um péssimo sinal
Preciso de uma bengala na alma
Será que necessitarei dela para sempre?
Sinto-me como alguém que sem muletas
não consegue olhar-se e ver-se
não é capaz de se apaziguar no interior de si
inquieto pelo apoio em falta.
Pedro, se estivesses comigo no Mosela, desta vez eu mergulhava.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Sonho mau
Luta
entre um homem com picareta
e outro com um espeto
O primeiro picava o segundo no pulso
devagar
abrindo progressivamente um buraco profundo
por onde o sangue ia saindo
A luta estava perdida
até que o segundo homem cravou no peito
o espeto
e a luta terminou
Acordei em sobressalto e agarrei-me às luzes e à sombra
ao barco que parte do cais
às frases mil vezes ouvidas
Abraçei o nada ao meu lado e não senti calor
Apenas um sonho mau
real como a tua ausência
entre um homem com picareta
e outro com um espeto
O primeiro picava o segundo no pulso
devagar
abrindo progressivamente um buraco profundo
por onde o sangue ia saindo
A luta estava perdida
até que o segundo homem cravou no peito
o espeto
e a luta terminou
Acordei em sobressalto e agarrei-me às luzes e à sombra
ao barco que parte do cais
às frases mil vezes ouvidas
Abraçei o nada ao meu lado e não senti calor
Apenas um sonho mau
real como a tua ausência
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Se o papá fosse vivo
Este é o papá que enganava o menino com a colher de sopa. É mais novo do que o papá que colocava os problemas sobre o tempo que demorava uma torneira a encher um depósito de x litros. Ou que lia a história da raposa e me falava do escritor que era tão bom que até inventava palavras que não existiam. Ou que dizia que o Danúbio Azul era melhor do que as músicas dos Beatles porque seria eterna. Ou que me atormentava a cantar: se um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais, se dois elefantes...
Este 'pai de Mozart' que levou o Feijão a tocar de forma sempre perfeita e nunca perfeita, o cravo da vida. Como eu não gostaria de ter sido também o pai de Mozart! E, no entanto, como lhe dei a minha alma e como ele ainda vive dentro de mim, eu, esmorecido e dolente, zangado com uma vida que deixei passar ao lado. Copos e humor: essa mistura fatal para quem pendurou alguma vez a vontade no cabide da vida.
sábado, 6 de dezembro de 2008
Três Primo(a)s
Irmãos
Todos nos setenta
um solteiro, uma casada, uma viúva
parecem ter menos, vivem forte
Passaram a tarde, beberam chá, comeram pão de ló
apaparicaram a tia
respeitaram o primo triste
Contaram imensas e belas histórias de vida
sofreram e gozaram com ela
(eu sei)
Mas no final, já sozinhos com o primo triste, desejaram:
felicidades...
Como é bom saber que não existe só a aleivosia.
Todos nos setenta
um solteiro, uma casada, uma viúva
parecem ter menos, vivem forte
Passaram a tarde, beberam chá, comeram pão de ló
apaparicaram a tia
respeitaram o primo triste
Contaram imensas e belas histórias de vida
sofreram e gozaram com ela
(eu sei)
Mas no final, já sozinhos com o primo triste, desejaram:
felicidades...
Como é bom saber que não existe só a aleivosia.
Afinal

Afinal onde não havia saudades
há saudades
Afinal onde não havia ternura
há ternura
Afinal onde havia para sempres
há quem sabe
Vejo a linha do horizonte da costa por mim traçada
vejo a alma doce por mim revelada
na espuma da água, num dia feliz
Sei que somos os anjos da guarda um do outro
vigilantes, atentos ou desatentos, a partir do céu ou do inferno
usando radares do século XXI
Encriptamos as palavras com os códigos que só cada um conhece
afastados pelo espaço da dor
a tentar reparar motores sem diagnóstico
com a vontade de que o difícil não se torne impossível
Afinal onde havia sem retorno
há retoma
Afinal onde só havia desejo
há o inexplicável
Afinal onde o pensamento estava ausente
está o primeiro e o último pensamento do dia
Afinal
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Rótulos e etiquetas, podem também ser tretas
O Transtorno de Personalidade Esquizóide (TPE), é definido como um transtorno de personalidade primariamente caracterizado por falta de interesse em relações sociais, tendência ao isolamento e à introspecção, e frieza emocional.
Os critérios são (pelo menos quatro DSM-IV):
- Não deseja e nem aprecia relações íntimas, incluindo ser parte de uma família.
- Quase sempre escolhe atividades solitárias.
- Tem pouca, se alguma, vontade de ter relações sexuais com outra pessoa.
- Tem prazer em poucas atividades, se alguma.
- Falta de amigos íntimos ou confidentes que não sejam parentes de primeiro grau.
- É indiferentes às críticas ou elogios.
- Mostra frieza emocional, distância e afetividade limitada.
Haiku 11
Hoje regressei triste
e tinha à minha espera uma cotovia
catedrática na dor, a ensinar-me a ser feliz
e tinha à minha espera uma cotovia
catedrática na dor, a ensinar-me a ser feliz
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Haiku 9
Sigo o destino da abelha
numa rota de dor e de liberdade
feita de um abraço terno e esperançoso
numa rota de dor e de liberdade
feita de um abraço terno e esperançoso
Haiku 8
Demasiada dor à minha volta
demasiada dor dentro de mim
basta de dor, hoje choveu onde eu não estava
demasiada dor dentro de mim
basta de dor, hoje choveu onde eu não estava
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Homenagem a Madalena Iglésias
Ele e ela
dançam nus sobre as ondas do trompete de Miles
Os pés podiam-se sobrepor
e um deles podia fazer voar o outro no mesmo espaço
desenhando arcos de luz numa cinética sonora
O cheiro a nada e o reconhecimento dos corpos
esboçam um esquisso de duas imagens fundidas
num querer-se sem limites
num balbuciar do irrazoável
para além dos limites impostos pela sobrevivência mediana
Sei quem ele é
ele é bom rapaz, um pouco tímido até
Ela e ele
dão agora as mãos sob o som surdo do ruído.
http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/iglesias-eleEEla.html
dançam nus sobre as ondas do trompete de Miles
Os pés podiam-se sobrepor
e um deles podia fazer voar o outro no mesmo espaço
desenhando arcos de luz numa cinética sonora
O cheiro a nada e o reconhecimento dos corpos
esboçam um esquisso de duas imagens fundidas
num querer-se sem limites
num balbuciar do irrazoável
para além dos limites impostos pela sobrevivência mediana
Sei quem ele é
ele é bom rapaz, um pouco tímido até
Ela e ele
dão agora as mãos sob o som surdo do ruído.
http://natura.di.uminho.pt/~jj/musica/html/iglesias-eleEEla.html
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
sábado, 15 de novembro de 2008
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
terça-feira, 11 de novembro de 2008
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Paris, já está a arder?
É duro ver o resultado (in)esperado de um mau trabalho. Não é possível enganar toda a gente durante todo o tempo.
Há que reagir. Transformar o mau em bom. Ir buscar forças onde elas já quase não existem e se existem, mais parecem um pequeno sopro de vaidade, de amor-próprio ferido e não algo porque valha a pena lutar.
Há que reagir. Transformar o mau em bom. Ir buscar forças onde elas já quase não existem e se existem, mais parecem um pequeno sopro de vaidade, de amor-próprio ferido e não algo porque valha a pena lutar.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Ensinamentos de Deus
O Feijão viu-se na necessidade de ler o livro "Gestão da cólera para Totós (coléricos e amuados - uma sub-espécie)": em http://www.apa.org/topics/controlanger.html
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Feijão no ShakesWine
O Feijãozinho disse-me: vê esta TED talk: http://www.ted.com/index.php/talks/ken_robinson_says_schools_kill_creativity.html
E eu vi e reparei que já a tinha visto no passado e colocado no meu ipod. Ken Robinson é talvez um dos oradores das minhas amadas TED talks que mais me impressionou. Pelo brilho, inteligência e por um humor 'british' incrível. Gostava de ser o Ken (pelo menos, mais do que a Barbie).
Mas, de repente, ao rever a talk, lembrei-me duma cena feliz no ShakesWine. Como só escrevo diários de vez em quando, não faço ideia se foi antes ou depois, ou durante, na Primavera, ou no Inverno, no dia 30 de Fevereiro, ou nas 25 horas Le Pé. O Feijão tem, em geral, boas recordações do ShakesWine. O Feijão quarda, em geral, as boas recordações e como raramente usa o diário, não guarda muito bem as outras.
Agora quando revejo o Ken, já não o vejo só a ele.
E eu vi e reparei que já a tinha visto no passado e colocado no meu ipod. Ken Robinson é talvez um dos oradores das minhas amadas TED talks que mais me impressionou. Pelo brilho, inteligência e por um humor 'british' incrível. Gostava de ser o Ken (pelo menos, mais do que a Barbie).
Mas, de repente, ao rever a talk, lembrei-me duma cena feliz no ShakesWine. Como só escrevo diários de vez em quando, não faço ideia se foi antes ou depois, ou durante, na Primavera, ou no Inverno, no dia 30 de Fevereiro, ou nas 25 horas Le Pé. O Feijão tem, em geral, boas recordações do ShakesWine. O Feijão quarda, em geral, as boas recordações e como raramente usa o diário, não guarda muito bem as outras.
Agora quando revejo o Ken, já não o vejo só a ele.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Comunicação excomungada

Feijão ligou a música no seu ipod. Caminhou em passo rápido, como só os feijões não caminham, sob o ritmo sincopado e raptado de Paul Simon. E andou até as pernas doerem, mas elas só doeram no dia seguinte. Mas pensou: os feijões não têm pernas! Mas elas doíam e por isso, no dia seguinte voltou a fazer o mesmo. E as pernas deixaram de doer. O corpo ganhou um cansaço feliz, mas pensou que os feijões não têm corpo. Descansou no cafezinho das tias.
Olhou para os seus 2 últimos posts e pensou que se estava a desvincular da Vida, concentrado numa infância para sempre perdida, mas não desejada, não desejada de volta. A mamã a meio metro à minha esquerda já está morta. A Teté, a dormir e a sofrer depois da diálise está morta. O papá, esse que estava no mesmo lugar onde está agora a mamã, escapuliu-se há muito para dentro dos meus neurónios. É agora uma estrutura de impulsos eléctricos, espartilhada nos vários compartimentos do meu cérebro, como se eu Feijão, tivesse cérebro. Tudo morto, tudo morto. Pergunto a mim próprio se os vivos, digo, os verdadeiramente vivos, não estão já mortos, enrolados no casulo duma vida para sempre perdida.
Mas não. O Feijão não é, nem fez apenas aquilo que as doces fotos fazem crer. O Feijão sofre. O Feijão ama. O Feijão faz asneiras. Procura saídas. O Feijão lê. O Feijão fala. O Feijão vive. O Feijão tenta trabalhar. O Feijão conhece novos universos. O Feijão esforça-se por chegar a algum lado.
Não quer morrer para ser feliz. Quer os momentos felizes, os momentos hiper-felizes, micro-segundos duma felicidade inaudita.
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
A tríade feminina do Feijão
A mamã (gorda), a Teté (com o regador) e a Tia Mila (a quem eu atirei uma tesoura, malvado). Em baixo a esfregar os olhos (já operados?), o meu primo Ricardinho.
Esta foi a tríade feminina que moldou o Feijão. Descobri só agora que nenhum dos seus membros se inscreveu de forma implacável na minha alma, nenhum deles é o motor do meu destino. Será que é assim, Herr Sigmund?
A Teté está a morrer
A Teté está na foto com o gato dela, o seu grande amor, para além do Lili Cacá e do Hu. Baptizei-o de "Astérix" e ela chamou-o de "Marujo". O Marujo já morreu há anos. Foi sepultado no caixote do lixo. Deixou de comer marmota cozida.
O Marujo não gostava de mim e eu retribuía. Eu devia gostar do Marujo mesmo que ele não gostasse do Lili Cacá (que era o meu pequenino eu). Devia, devia. Não posso gostar só de quem me ama.
domingo, 2 de novembro de 2008
Os feijões também renascem
O meu antecessor morreu afogado num ataque súbito de "cólera". Renasço agora, numa estufa improvisada, sem todas as condições para medrar, mas suficientes para poder procurar e encontrar a Luz. Possa a Luz estar comigo.
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